Pressupostos Pedagógicos

Sobre Brinquedos Pedagógicos

Levando em consideração a grande quantidade de estudos que têm sido desenvolvidos, nos últimos anos, por profissionais ativos ou relacionados ao atendimento e ao desenvolvimento dos sistemas cognitivos, psíquicos e motores na primeira infância; bem como o que se tem apresentado ao público de pais, com a nomeação de “brinquedo pedagógico”; este texto propõe algumas considerações em relação ao que entendemos por brinquedo pedagógico e sua importância no desenvolvimento pleno das capacidades do bebê e da criança.

Baseados nas proposições de Jean Piaget, Vigotysky, Henri Wallon e especialmente Melaine Klein, entende-se que o brinquedo seja instrumento constituinte e mesmo fundamental ao desenvolvimento e a apropriação por parte do bebê e da criança do mundo social no qual está inserido. Constantemente percebe-se na história, uma classe de brinquedos intimamente ligada, e até mesmo representativa dos papéis sociais dominantes em cada período, bem como do gênero ao qual se destina. Não nos é estranho, por exemplo, relacionar e atribuir ao sexo feminino o brincar de boneca ou com jogos de cozinha; assim como ao sexo masculino o brincar de pedreiro e mecânico, profissões majoritariamente desempenhadas por indivíduos do sexo masculino. Tal relação demonstra, sua capacidade óbvia, e íntima com a apropriação de papéis ao longo do desenvolvimento.

Deste modo, pressupõe-se que todo brinquedo seja pedagógico, desde aqueles construídos por seus usuários (brinquedos de sucata, por exemplo) até aqueles comprados e elaborados de forma extremamente sofisticada.

O que se tem convencionado chamar de brinquedo pedagógico

Considerando a extensa profusão dos meios de comunicação, relacionados as questões éticas no que se refere a capacidade de julgamento durante a primeira infância; aparecem os ditos “brinquedos pedagógicos”. Em geral, estes tem sido relacionados aqueles brinquedos passiveis de uma série de funções, jogos, relação com números, cores e letras. Ok. Do ponto de vista de introdução a cultura na qual estão inseridas, cultura letrada e tecnológica; estes brinquedos possibilitam a aquisição de uma série de itens que permitirão a seus usuários, de forma cada vez mais simplificada, acessar a cultura dominante no qual estão inseridos.

No entanto, tendo em vista as estatísticas que relatam o aumento da criminalidade, ou mesmo de casos de depressão ou abuso de drogas por parte de crianças e adultos, perguntamo-nos: em meio a tal desenvolvimento tecnológico e científico, o que falta para que a sociedade retome e cultive seus ideais de fraternidade? A título de hipótese, apresento a ausência ou diminuída importância dada aos brinquedos de apego. Entendendo assim aqueles brinquedos relacionados ao toque e aos sentidos do olfato e paladar.

Com base nas pesquisas e teorias desenvolvidas por psicólogos e psicanalistas, é de conhecimento público a importância que a manipulação (que não seja apenas para apertar um botão que ativará uma função) tem na introdução e no desenvolvimento cognitivo, psíquico, motor e afetivo das crianças pequenas. É através dos cheiros, gostos e propriedades que a criança consegue perceber em seus brinquedos que seu conhecimento sobre o mundo se constrói. Desde diferenciações “simples” de textura e temperatura, aquelas mais elaboradas que referem-se a uma apropriação coletiva, tornada particular, a medida em que revela sua individualidade.

Dito isto, conclui-se com a proposição de revalorização dos brinquedos tradicionais, quaisquer que sejam; distantes, talvez de uma cultura informatizada, mas intimamente ligados e construídos com base na sabedoria popular e em observações ao longo da história. Espera-se que desta forma, as novas gerações tenham a oportunidade de desenvolver-se integralmente, considerados seus aspectos cognitivos, afetivos e motores. Que os ditos “brinquedos pedagógicos” busquem um equilíbrio entre as diversas facetas de desenvolvimento do homem, deixando de privilegiar apenas seu desenvolvimento técnico passível de apropriação do capital. Quanto mais as crianças puderem sentir-se parte de um todo, entendendo-se como seres complexos e fraternos, melhores serão as perspectivas de uma sociedade mais justa e menos problemática.

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